sábado, 18 de agosto de 2007

Introdução

Eu Paulo César Pereira,filho de um ferroviário que trabalhou na Estrada de Ferro Leopoldina na época em que circulavam os trens em Manhuaçu MG. Meu pai chamava Whilton Pereira vulgo Neném da estação,onde trabalhou desde o ano de 1940 até o ano de l975 em que aposentou.E eu convivi com meu pai nos trens posso dizer que desde que eu nasci,pois eu morava enfrente a estação de manhuaçu na rua por nome Triangulo.E quando eu era ainda criança,mas eu deveria ter uns dois anos de idade,e já estava aprendendo a gostar de ferrovia.E com esta mesma idade eu todos os dias ia até a estação nos horários em que o trem iria sair,e eu ficava na estação sentado encima da bicicleta do meu pai e apreciava o trem na estação bem como toda movimentação dos passageiros embarcando no trem e se despedindo uns dos outros.E assim dava a hora da partida que era as 11.30 horas,isto as 2a,4a e as 6a feiras com destino ao Rio de Janeiro na estação de Barão de Mauá. E quando o trem saia da estação eu ficava só acompanhando o deslocamento e o acelerar da locomotiva e eu somente ia embora quando o trem passava sobre um pontilhão que existia na entrada do bairro engenho da serra e desaparecia no final de uma curva no mesmo bairro.O mesmo acontecia quando era a chegada do trem que vinha do Rio de Janeiro,onde chegava em Manhuaçu as 3a, 5a e no sábado por volta das 16.00 Horas,eu ficava só observando a hora em que a locomotiva aparecia na curva e até chegar na estação, e era lindo ouvir o barulho dos freios acionando e o descarregar do ar deles, e isto aconteceu até o ultimo dia em que circularam trens em manhuaçu, que foi no dia 31 de Janeiro de 1972. Me lembro também que quando eu ainda criança, eu ia a estação em todas as chegadas dos trens para ajudar o meu pai nas limpezas dos carros de passageiros e eu fazia tudo sozinho, isto com muito amor e o capricho e a vontade de limpar era muita. E quando era dia de chegar o trem misto que chegava também três vezes por semana e chegava a noite, e eu não me importava com a hora que chegava que eu estava na estação lá na estação , e também eu tinha um costume de anotar os números das locomotivas e de todos vagões que chegavam e a data e hora de chegada. Me lembro também que ouvia os funcionários da Leopoldina conversarem que na época em que a ferrovia chegou em Manhuaçu em 1915,diziam que o projeto de construção seria até a cidade de Manhumirim onde seria o ponto final e que a prova disto era uma linha triângulo que existia a mais ou menos um KM da estação de Manhumirim.Pois diziam por quê existir um triângulo pra virar o trem em um local apenas de passagem?.Mas decidiram chegar em Manhuaçu devido a necessidade dos transportes de cafés e produtos agrícolas da região.
Me lembro também que quando eu via o trem passar perto da minha casa na rua do triângulo que estava virando de posição,eu ficava só observando as rodas da locomotiva a vapor e,ficava só torcendo para que ela descarrilhase próximo à minha casa para eu ficar mais tempo apreciando a mesma.E as vezes acontecia.Me lembro que aconteceu o descarrilamento de uma locomotiva a vapor modelo GARRATTI de № 394 e ela ficou 24 horas nos trabalhos de carrilhar , onde eu achava interessante nessa locomotiva era que tinha dupla função em uma única, isto porque ela puxava e empurrava, ou melhor a tração era na frente e atráz, eu a chamava de Ramona. Me lembro também que o trem misto por muitas vezes chegou em Manhuaçu tarde da noite, e lá estava eu aguardando a chegada, e as vezes eu dormia no interior da estação encima de fardos de tecidos aguardando a chegada, e quando a locomotiva apitava a km da estação eu me levantava ia iniciar a minha rotina das limpezas , e as vezes os carros de passageiros chegavam com as luzes fracas com as baterias descarregadas e ficava até mesmo apagadas,e fazia as limpezas no escuro. Me lembro também que meu pai trabalhava em alguma época na estação de Reduto e eu ainda criança ele me levava com ele e eu era apaixonado por viajar de trens e quando na viagem eu só ficava observando o funcionamento da locomotiva e quando era a vapor eu ficava observando o movimentar das rodas e a fumaça saindo na chaminé bem como os vapores nas rodas e todo aquele barulho aumentava quando começava a subir em serra que existia próximo a Reduto, e era emocionante, e as vezes a fumaça invadia os carros de passageiros e entrava até faísca de brasas. E quando era locomotiva diesel eu gostava de apreciar a aceleração na subida da serra bem como a fumaça que saia da chaminé. As vezes também nós em nossa casa quando chegava a época de férias escolar, meu pai pedia um passe para que nós pudéssemos viajar até o Rio de Janeiro. E o mais interessante é que em todas as estações o trem fazia parada, e o movimento de passageiros era muito grande,e parecia festa em cada estação.E um dos locais entre os mais bonitos era a serra da Vista Bela onde existia uma pedreira onde retirava pedras para colocar nas linhas da região, e no ponto mais alto que o trem passava nela dava para avistar todas as montanhas e era lindo a paisagem.Quando o trem chegava em Espera Feliz as vezes encontrava com o trem que estava vindo para Manhuaçu, e era um ponto de parada para fazer lanches e o trem seguia viagem. E antes de chegar na estação de Carangola passava em uma serra tambem muito alta e a paisagem era maravilhosa ela chamava serra da Criminosa, isto diziam os antigos funcionários da EFL andando alguns minutos chegava na estação de Ernestina que ficava bem no alto daquela serra,onde neste local costumava encontrar com o trem que estava vindo para Manhuaçu. E vendia-se tambem lanches principalmente bolos feito na roça que era uma delícia,e logo chegava em Carangola e era a mesma coisa, e prosseguia a viagem. E quando chegava na estação de Recreio era um ponto mais demorado onde todos passageiros ficavam a vontade para lanchar e até mesmo fazer refeições. E este trem unia com o outro trem que estava vindo da cidade de São Geraldo, e totalizava em 7 a quantidade de carros sendo 4 de passageiros,1 de restaurante,1 de leito e carro de comando isto em época normal,porque em tempo de festas alterava para atender a demanda que era muita. E saía de Recreio por volta das 21.00 horas com destino a Barão de Mauá no Rio.E este trem partia de Manhuaçu as 11.30 horas e chegava no Rio no outro dia as 7.30 horas da manhã, e o tempo de viagem era demorado mas divertido mesmo quando surgia algum problema durante a viagem. E eu não consegui dormir, eu só ficava olhando as paisagens e o mover da locomotiva que as vezes eram até duas e era lindo as duas funcionando simultaneamente. E ao aproximar da estação de Barão de Mauá o trem passava perto do estádio Maracanã, e eu achava lindo aquela paisagem que parecia mais um pneu de tamanho gigante deitado. Me lembro tambem que em Manhuaçu no início da década de 60 da primeira locomotiva diesel que iniciou em operação, e a chegada dela na estação foi uma festa ,e todos achavam ela muito bonita, pois era de cores vermelha e amarela,pois até nesta época somente funcionava com locomotivas a vapor. E após esta data deixaram em Manhuaçu uma locomotiva a vapor de reserva para atender socorro quando as diesel davam defeitos e isto era comum principalmente em época de frio que elas as vezes não pegavam, e tinham que colocar fogo na fornalha da a vapor, e o pior que demorava 4 horas para ela atingir a pressão necessária para poder deslocar, e assim ela que ficava no fundo do barracão, ela tinha que empurrar por traz a locomotiva diesel e tambem todos carros de passageiros que estavam naquele local que era das limpezas. Normalmente deixavam a locomotiva de № 342, e eu gostava de até mesmo limpa-la, e ficava só observando como era por baixo, por cima e até por dentro da fornalha.E o trem seguia viagem puxado pela a vapor levando a diesel rebocada até encontrar com o outro trem no sentido contrário e a outra locomotiva dava chupeta elétrica e funcionava seguindo a viagem até o destino. Tudo isto me emocionava e me dava mais amor pelos trens,onde foi uma pena ter fechado o ramal de Manhuaçu em 31/01/1972. E neste dia quando eu estava fazendo as limpezas, teve um momento em que eu parei na porta do carro de passageiros e fiquei pensando que no dia seguinte não mais estaria ali este trem, e o como seria aquele local daí em frente.Mas passados alguns dias veio um trem de cargas trazendo as últimas cargas que encontravam compromissadas em transporta-las,e foram embora os vagões e ficou vazio o pátio por mais de 1 ano. Na última viagem do trem em Manhuaçu, vieram várias reportagens para fazer a matéria, veio entre elas a Rede Globo, e parecia uma festa na estação de Manhuaçu, e o trem fez um passeio até nas proximidades de batalhão velho e retornou onde muitas pessoas tiveram oportunidades de fazer a pequena viagem, e foi então o último trem saindo de Manhuaçu.O povo de Manhuaçu teve o privilégio de usufruir o melhor nos transportes de passageiros, pois em 1968 iniciou um trem de passageiros chamado trem de aço, que transportava 60 passageiros sentados, e era tanto conforto que podia colocar um copo com água no piso durante a viagem que não entornada, mas durou pouco tempo, funcionou até o ano de 1971. E no dia 26 de abril de 1973, chegou em Manhuaçu um trem com vários vagões de cargas e pranchas puxado pela locomotiva a vapor de №342, e iniciaram os serviços de retiradas dos trilhos, dormente e todos materiais da estrada de ferro, e em todos finais de semana vinha até Manhuaçu uma locomotiva diesel para levar as mercadorias nos vagões, e isto aconteceu por varias semanas, e foram só desaparecendo o vestígio da estrada de ferro, e estavam demorando em média uma semana para desmanchar um KM, e acompanhei todos trabalhos desmanche até a cidade de Reduto.
Desta forma eu como admirador de ferrovias tenho hoje só a lamentar, pois não temos nenhum vestígio dela em nossa cidade, ficando somente as lembranças que o passado deixou,até mesmo a estação foi totalmente destruida, ficando só no local um terminal rodoviário e uma praça.
São este um depoimento de quem viveu toda a infancia junto dos trens na cidade de Manhuaçu MG.

PAULO CÉSAR PEREIRA 30/08/2006

Um comentário:

joão figueira disse...

meu pai tambem trabalhou no trecho entre carangola e manhuaçu. ele fez parte da tripulação do ultimo trem. o nome dele era joão figueira de farias e era auxiliar de maquinista. pena que não tenho nem uma foto daquela epoca.